Friday, September 29, 2006

Cê tá Rock

Tinha lido e ouvido que o novo do Caetano "Cê" era pra ser "cd de rock clandestino".
Não chega a tanto, mas pelo menos o Leaozinho saiu da interminável fase banquinho-violão-orquestra-chororô.

O CD tem realmente uma sonoridade há muito não ouvida em suas músicas, e é muito bom! Aliás, o que eu mais gosto de Caetano é como ele consegue fazer músicas legais, mesmo que as letras, assim, lidas, pareçam meio bobas.

Por exemplo, uma das melhores músicas é "Rocks":
"Tatuou um ganesh na coxa
chegou com a boca roxa de botox
exigindo rocks
animais metais totais letais
eu não dei letra
tu é gênia, gata"

Ave Caê

Wednesday, September 27, 2006

4:01 AM Ócio improdutivo

Tudo bem que eu já estava acostumado a não ter mais tanto tempo livre para ler, escrever e coisas que pessoas que acreditam na vida-após-o-trabalho fazem; mas ficar até 4h30, 5h da manhã botando sistema para funcionar também já é demais...

Semana que vem a vida volta ao normal (assim espero).

Monday, September 18, 2006

Quero ser Tom Zé quando eu crescer.

Tom Zé é, como eu, homem devoto de mulher,
sofisticado devoto do que é simples.
Faz do cotidiano e do geo-político um pires
para do político e do geo-cotidiano fazer sua colher.

Operário da arte que é, jardina o som de Irará
Contra dor de bucho dilui ano, eno e onu
Contra-ataca junto a Lampião o FMI e o Carcará
já o caboclo do sertão, esse flui e vai pro trono.

E da dinamite na cabeça do século, pode acender o pavio
Porque tudo isso é made made made, made in brazil.

Saturday, September 16, 2006

Domingo de Ramos

A movimentação era grande naquela tarde na Igreja Coração Imaculado de Maria, popularmente conhecida de Igreja da Redentora, pelo nome do bairro de classe média-alta de São José do Rio Preto, interior paulista.

Era domingo, e junto com Cristiana, dezessete bebês seriam batizados. O número coincidia com os dezoito quadros da atípica via sacra que ilustravam as paredes da nave principal.
A igreja estava cheia, o domingo era de Ramos, e a data tradicionalmente atraía mais pessoas que a frequência normal à qual o Padre Francisco estava acostumado.

O fato se repetia em todas as dioceses, e os sacerdotes nunca admitiam em público, mas intimamente suspeitavam que esta atração se dava mais pelo lúdico de se carregar pequenos ramos de palmeira do que pela lembrança da entrada de Jesus em Jerusalém.

De uma forma ou de outra, para Padre Chico se tratava de um dia muito especial, tratava-se da
primeira data importante desde que a série de quadros da Paixão de Cristo de seu amigo Zé Antônio, caboclo que agora era pintor famoso, chegara à igreja da Redentora.

Ele respirou fundo e pegou com a mão esquerda o rosário sob o pequeno altar montado na sacristia, num movimento automático levantou a batina e ajoelhou-se em frente à imagem. Ficou ainda alguns instantes ajoelhado, mesmo após a oração, lembrando da fisionomia serena e do sorriso fácil (e risada difícil) do caboclo tímido chegando-se a ele após um sermão:
"A benção Padre"
"Deus te abençõe meu filho"
"Padre, gostei muito do sermão, mas tem uma coisa qui num sai da cabeça" - ele puxava o "r" como era o típico da região
"Diga meu filho"
"Sempre quando o siôr fala de Jesus e conta as história, é tudo tão bunito, que não dá pra intendê porque os santo aqui da igreja tão sofreno tanto."

Ao se levantar do pequeno altar o padre sorriu enquanto fazia o sinal da cruz e lembrava que concordou com Zé Antônio. Lembrou também que, continuando a prosa, marcaram um outro encontro para falar de arte sacra e conhecer os quadros que ele já começava a pintar.

"Esse caboclo é mesmo fantástico" pensou o padre ao levantar do geno-flexório, da mesma forma como já pensara naquele primeiro encontro.

O padre cruzou a porta da sacristia e seguiu o curto corredor que a ligava ao altar. A igreja estava realmente cheia.

"Bom dia irmãos, estamos aqui para celebrar um dia glorioso na vida de Jesus", iniciou o padre com um leve sotaque que insistia em não ir embora, mesmo depois de tantos anos da vinda de Francisco Janssen da Holanda para o Brasil. As pessoas sorriam carinhosamente na platéia.

O sermão foi especialmente iluminado, em parte pela felicidade que Padre Chico sentia, mas principalmente pelo grupo de crianças que percorriam a nave da igreja, ramo de palmeira em mãos, inventando sua própria via sacra.

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Conheça mais sobre o artista e arte naïf: José Antônio da Silva

Wednesday, September 06, 2006

Mama Africa


O fim de semana intenso com a Paulets não podia dar em nada diferente mesmo. A semana tem sido de cultura brasileira e africana.

A visita ao Museu da Língua Portuguesa (link) foi espetacular, na mostra fixa com a história das origens do português brasileiro. Línguas africanas, Tupi, Português, Inglês, tudo muito bem montado, fazendo com que uma exposição que poderia ser chatíssima se tornou interessantíssima! Da pra passar o dia todo por lá, decifrando a quantidade de informações e os quebra-cabeças propostos pelos curadores.

O CD de MP3 que ganhei dela tem também "Afro-Sambas" de Baden Powell e Vinícius, tem a musa cabo-verdiana Cesária Évora(link), o angolano Ruy Mingas.

Tem também o espetacular Milagrimas que mistura música sul-africana com Dorival Caymmi. E, como se não bastasse isso tudo, tem também Fela Kuti, o fundador do Afrobeat, revolucionário e ativista nigeriano que mandou o caixão da mãe para o exército quando a mataram e compôs a música "Coffin for Head of State".

Mama Africa, a minha mãe é mãe solteira!