Wednesday, July 18, 2007

Vida (?) e morte na pós-modernidade.



Esta noite caiu um avião. Ele se descontrolou e atravessou a 23 de maio, entrou num galpão e explodiu, matando 200 pessoas. A globo não interrompeu a novela, um deputado do PSDB escreveu uma nota entre lágrimas, culpando, confirmando que tinha avisado e exigindo medidas do Presidente, que é do partido de oposição. Repórteres e pessoas de todos os lados cobram providências das autoridades. "Não há informações!" Hoje na TV mostravam a repercussão internacional, saiu na CNN, no New York Times, como se isto atestasse, agora sim, que a tragédia foi grave, "Isto é um absurdo! É esta a imagem que fica do nosso pais no exterior!"

O vôo vinha de Porto Alegre, um dos passageiros era um colega de trabalho. O P. vinha para um treinamento que seria feito aqui no nosso projeto hoje e antecipou seu vôo.

Um motorista deu entrevista dizendo ter visto o avião passar 4 metros acima de seu carro. Os frentistas do posto também viram tudo. Muitos corpos carbonizados já foram identificados, a identificação no IML passará por informações dos familiares (tatuagens, piercings, etc.), depois pela arcada dentária, depois por DNA. São procedimentos que devem ser seguidos segundo as normas internacionais. A lei não permite que sejam divulgados os nomes dos passageiros até que todos os familiares tenham sido contactados.

O Gabriel, que não conheço, não conseguiu chegar a tempo para pegar o vôo e foi a última pessoa com quem o P. falou, "estou aqui no aeroporto, vou adiantar o vôo, você não vem? Não P., não vou chegar a tempo, vou no próximo." O próximo vôo, onde vinha Gabriel, foi deslocado para cumbica, não haviam condições de pouso. A viúva ligou para Gabriel, "por favor, me diga que o P. estava no avião com você". Não estava.

Morreram carbonizados os 170. Fala-se em falha do piloto. A pista não tinha condições, o grooving, as ranhuras do asfalto seriam feitas semana que vem. As caixas-preta, que são na realidade de outra cor, estão a caminho dos EUA para serem periciadas.

P. trabalhava em Porto Alegre ao lado de pessoas que estão aqui do projeto, seus olhos não secaram um só segundo durante todo o dia. O treinamento foi adiado para semana que vem.

"Ai que medo! podia ter sido eu!", é a primeira reação de algumas pessoas, em um egoismo involuntário. Via-se nos céus 6 helicópteros disputando as imagens dos escombros. O Serra e o Kassab rapidamente apareceram lá. "Vamos dar todo o apoio possível, estamos todos mobilizados." Um não-sei-quantos de carros de bombeiros, outros não-sei-quantos policiais, não sei quanto, não sei quanto. Várias pessoas que nunca andaram de avião e trabalhavam no depósito da TAM morreram. O Maior desastre aéreo da aviação brasileira. Mais dois records pan-americanos na natação. O brasil está em terceiro no Pan. O Jornal Nacional encerrou sem a música de encerramento. Uma das pistas da 23 já está liberada. Uma pequena pausa para nossos comerciais.

Quanta informação desnecessária. O que nos tornamos? Não existe vida após a morte. Deus está morto.

Ontem caiu um avião e o P., com mais 200 pessoas morreram. 200 visões e histórias individuais se interromperam.

Thursday, July 12, 2007

Don't follow me, I'm lost too.

Ando meio sem vontade de salvar o mundo. Parece que cansei (pelo menos por enquanto) de tentar convencer qualquer um de qualquer coisa. A impressão que tenho é que tentar convencer as pessoas é mais vaidade que esperança. Sinto que tentar convencer os outros é quase uma forma de justificar para mim mesmo meus próprios atos.

Ora, não quero, e disto estou convicto, nem um, nem outro. Também não quero gastar energia (que me é pouca) em levar ninguém, ainda mais não tendo a menor certeza de onde chegarei.
Mas sei lá porque, talvez por instinto, talvez por cacuete, me pego inúmeras vezes em delito de verborragia. São e-mails que me arrependo, é bradar entre vinhos caros e talheres de prata para surdos e logo após, consciente da inocuidade do ato, baixar os olhos e calar.

Calar de desgosto, calar de relembrar que quase a totalidade das pessoas está brutalizada, consumida por seu próprio consumo, cegada de tanto neon, estupidificada de tanta soberba, afogada em tantos conceitos pré-fabricados, tão comuns em todos os lugares, tão lugares-comuns.

Chegarei em algum lugar, e aí quem sabe volto a bradar meus sonhos, sensibilizar os brutos. Por enquanto vou ficando cego pra poder guiar.

Thursday, July 05, 2007

O seu olhar melhora o meu


Tenho pensado muito sobre o que significa o olhar, porque ao olhar, é inevitável, julgamos. Ao olhar, há lentes entre a realidade e nossa alma, há a interpretação de nosso cérebro, há a visão seletiva, de selecionarmos um foco, um objeto em destaque.

Ao fotografarmos, quem vê a foto entende através de seu olhar o que já havia sido filtrada pelas idéias, olhares e lentes do fotógrafo.

A fotografia, como toda arte, é um diálogo.