Thursday, November 22, 2007

da dificuldade de se escrever diálogos fáceis

-Foi meio caro o livro [o universo em desencanto], só comprei mesmo pelo barato de ter a ver com o Tim Maia Racional. Ainda mais que não tem direitos autorais, nem nome de autor tem.
-É mesmo?

-E como você sabe que não é falso?
-Ah, é só ler um pedaço que você vai ver que é o próprio
-Muito louco é?
-Nossa, uma viagem.
-Você viu que vão lançar, ou já lançaram, a biografia dele?
-Do Tim Maia? que legal!
-É, e quem escreveu foi o... como chama?
-Ed Motta?
-É!
-Ixe! então vai ser meio pesada, disse que eles não se davam muito bem..
-Não, não foi ele não, eu concordei sem pensar! foi aquele jornalista... como chama?
-Sei lá.. será que foi o Nelson...
-Isso!
-Rubens?
-Não, tonto!
-Hahahaha Motta
-Isso, Nelson Motta. Ele que escreveu.
-hm.

Monday, August 27, 2007

Cena para um filme

O plano inicia aberto, vê-se um caminhão uns cinquenta metros adiante. Ele vai bastante rápido tem uma lona que já não está tão bem amarrada. Com a velocidade a lota se debate freneticamente e o caminhão parece não dar importância a isto.

É uma estrada bem pavimentada, das que levam para grandes cidades. O plano vai fechando no caminhão muito lentamente. Na aproximação nota-se alguns vultos sob a lona.

Agora já se reconhece uma garota, adolescente, cabelo crespo, loiro, queimado do sol. Ela olha para a câmera e seu olhar é um misto de espanto e força. A trilha sonora é do Abujamra:

[...]O mundo é pequeno pra caramba
Tem alemão, italiano, italiana
O mundo filé milanesa
Tem coreano, japonês, japonesa

O mundo é uma salada russa
Tem nego da Pérsia, tem nego da Prússia
O mundo é uma esfiha de carne
Tem nego do Zâmbia, tem nego do Zaire

O mundo é azul lá de cima
O mundo é vermelho na China
O mundo tá muito gripado
O açúcar é doce, o sal é salgado [...]

Wednesday, July 18, 2007

Vida (?) e morte na pós-modernidade.



Esta noite caiu um avião. Ele se descontrolou e atravessou a 23 de maio, entrou num galpão e explodiu, matando 200 pessoas. A globo não interrompeu a novela, um deputado do PSDB escreveu uma nota entre lágrimas, culpando, confirmando que tinha avisado e exigindo medidas do Presidente, que é do partido de oposição. Repórteres e pessoas de todos os lados cobram providências das autoridades. "Não há informações!" Hoje na TV mostravam a repercussão internacional, saiu na CNN, no New York Times, como se isto atestasse, agora sim, que a tragédia foi grave, "Isto é um absurdo! É esta a imagem que fica do nosso pais no exterior!"

O vôo vinha de Porto Alegre, um dos passageiros era um colega de trabalho. O P. vinha para um treinamento que seria feito aqui no nosso projeto hoje e antecipou seu vôo.

Um motorista deu entrevista dizendo ter visto o avião passar 4 metros acima de seu carro. Os frentistas do posto também viram tudo. Muitos corpos carbonizados já foram identificados, a identificação no IML passará por informações dos familiares (tatuagens, piercings, etc.), depois pela arcada dentária, depois por DNA. São procedimentos que devem ser seguidos segundo as normas internacionais. A lei não permite que sejam divulgados os nomes dos passageiros até que todos os familiares tenham sido contactados.

O Gabriel, que não conheço, não conseguiu chegar a tempo para pegar o vôo e foi a última pessoa com quem o P. falou, "estou aqui no aeroporto, vou adiantar o vôo, você não vem? Não P., não vou chegar a tempo, vou no próximo." O próximo vôo, onde vinha Gabriel, foi deslocado para cumbica, não haviam condições de pouso. A viúva ligou para Gabriel, "por favor, me diga que o P. estava no avião com você". Não estava.

Morreram carbonizados os 170. Fala-se em falha do piloto. A pista não tinha condições, o grooving, as ranhuras do asfalto seriam feitas semana que vem. As caixas-preta, que são na realidade de outra cor, estão a caminho dos EUA para serem periciadas.

P. trabalhava em Porto Alegre ao lado de pessoas que estão aqui do projeto, seus olhos não secaram um só segundo durante todo o dia. O treinamento foi adiado para semana que vem.

"Ai que medo! podia ter sido eu!", é a primeira reação de algumas pessoas, em um egoismo involuntário. Via-se nos céus 6 helicópteros disputando as imagens dos escombros. O Serra e o Kassab rapidamente apareceram lá. "Vamos dar todo o apoio possível, estamos todos mobilizados." Um não-sei-quantos de carros de bombeiros, outros não-sei-quantos policiais, não sei quanto, não sei quanto. Várias pessoas que nunca andaram de avião e trabalhavam no depósito da TAM morreram. O Maior desastre aéreo da aviação brasileira. Mais dois records pan-americanos na natação. O brasil está em terceiro no Pan. O Jornal Nacional encerrou sem a música de encerramento. Uma das pistas da 23 já está liberada. Uma pequena pausa para nossos comerciais.

Quanta informação desnecessária. O que nos tornamos? Não existe vida após a morte. Deus está morto.

Ontem caiu um avião e o P., com mais 200 pessoas morreram. 200 visões e histórias individuais se interromperam.

Thursday, July 12, 2007

Don't follow me, I'm lost too.

Ando meio sem vontade de salvar o mundo. Parece que cansei (pelo menos por enquanto) de tentar convencer qualquer um de qualquer coisa. A impressão que tenho é que tentar convencer as pessoas é mais vaidade que esperança. Sinto que tentar convencer os outros é quase uma forma de justificar para mim mesmo meus próprios atos.

Ora, não quero, e disto estou convicto, nem um, nem outro. Também não quero gastar energia (que me é pouca) em levar ninguém, ainda mais não tendo a menor certeza de onde chegarei.
Mas sei lá porque, talvez por instinto, talvez por cacuete, me pego inúmeras vezes em delito de verborragia. São e-mails que me arrependo, é bradar entre vinhos caros e talheres de prata para surdos e logo após, consciente da inocuidade do ato, baixar os olhos e calar.

Calar de desgosto, calar de relembrar que quase a totalidade das pessoas está brutalizada, consumida por seu próprio consumo, cegada de tanto neon, estupidificada de tanta soberba, afogada em tantos conceitos pré-fabricados, tão comuns em todos os lugares, tão lugares-comuns.

Chegarei em algum lugar, e aí quem sabe volto a bradar meus sonhos, sensibilizar os brutos. Por enquanto vou ficando cego pra poder guiar.

Thursday, July 05, 2007

O seu olhar melhora o meu


Tenho pensado muito sobre o que significa o olhar, porque ao olhar, é inevitável, julgamos. Ao olhar, há lentes entre a realidade e nossa alma, há a interpretação de nosso cérebro, há a visão seletiva, de selecionarmos um foco, um objeto em destaque.

Ao fotografarmos, quem vê a foto entende através de seu olhar o que já havia sido filtrada pelas idéias, olhares e lentes do fotógrafo.

A fotografia, como toda arte, é um diálogo.

Sunday, June 24, 2007

Meta-fotografia


"Fragrante" na aula de fotografia. A galera vem de Santos (porra!) todo sabadão pra aprender a manusear uma câmara escura portátil.

Feita com a Fuji Finepix S9000 do meu irmão dia 19 de maio. A Clarice não tinha nascido ainda.

Tem um cadáver no seu armário.

Fundos do Mercado Municipal e Edifício São Vito. Um outro título poderia ser "esse cheiro que você está sentindo vem do ralo."

"Nas redondezas do edifício não há glamour. [...] O São Vito abriga 3 mil pessoas em 624 apartamentos de 27 metros quadrados. Para alugar um deles, paga-se até 250 reais mensais. Para comprar, de 12 a 15 mil. O condomínio é de 133 reais. O Villa América, prédio de alto padrão dos Jardins, possui um andar a mais do que o São Vito. São vinte e sete. Um andar a mais e um abismo numérico distiguem as duas construções paulistanas. No prédio dos Jardins, cada morador desembolsa 6 mil por mês apenas de condomínio. Lá cada apartamento de 750 metros quadrados, cinco salas e cinco suítes, custa até 6 milhões de reais. Com esse dinheiro dá para comprar 400 quitinetes do São Vito. No Villa América, há um apartamento por andar. No edifício do centro, 25. Privacidade é artigo cobiçado no local."
-- Matéria da revista época de 6/11/2000

Foto: Nikon F2 , Ilford 400.

Mercado Municipal


Engraçado que é só dar uma embelezadinha e um ar de shopping que nem o cheiro do peixe (ou do ralo) espanta mais a "crasse média".

Nikon F2, Filme Ilford Iso 400 PB. Revelada por euzinho e escaneada por um mané da Kodak Express que teve que refazer 3 vezes até conseguir me gerar um CD com todas as fotos.

Minhocão.

A saída foi há alguns fins de semana, mas hoje bateu o clima de escrever sobre isto.
O minhocão provavelmente a maior aberração arquitetônica da cidade de São Paulo. E olha que São Paulo não é nada fraca neste tema. Em poucas palavras, o elevado é um viaduto que acompanha uma avenida que já existia, só que vai por cima e invade a casa dos prédios que já existiam, enfeia a paisagem que já existia e cria áreas degradadas que não existiam.

Como se isto não bastasse, "foi Maluf que fez", e ele adora usar isto como campanha política, e o nome do elevado é o nome do presidente mais filho-da-puta da ditatura (tá bom, aí a competição com Geisel e Médici é dura).

Fora tudo isto, o fato de o fecharem aos domingos e feriados é algo fantástico, e acaba criando um certo clima de parque, com as pessoas indo andar de bicicleta, tomarem água de coco ou simplesmente passear. Era um dia cinzendo, minhas fotos não sairam lá essas coisas, mas tem essa aí gentilmente cedida pelo Renatão que ficou bem bacana.

Thursday, June 14, 2007

gostar de mim, gostar de você.

Você acha que eu gosto de você? disse ela em tom de séria. Ele baixou o olhar, sem entender muito bem se era pergunta ou se era resposta, tentando se proteger de sua própria vaidade. Por quê esta pergunta? é assim uma coisa tão absurda? algo do tipo, você só pode estar sonhando em pensar que eu gosto de você, disse ele, se refugiando no que lhe restava de sarcasmo, ainda um pouco desnorteado pela pergunta repentina.

Não, não, não foi o que eu disse. Minha pergunta é só porque as vezes eu acho que você acha que eu gosto de você, tentou consertar ela, olhar sempre seguro, ar inseguro. Gostar como? defina gostar. Não, gostar, eu gosto, é claro que eu gosto! senão não estaria aqui, mas estou falando assim um gostar que é um pouco mais.. um gostar mais que amigo e menos que estar apaixonadinha. Ah! entendi, acho que sua pergunta é outra... Outra? qual? como assim? Não sei, espera, mas não entendi direito o que você quer saber. A pergunta é se eu acho que você gosta de mim mais do que de outros amigos? Então eu acho que sim. conclui ele tentando dar um ar racional à conversa. Ah, mais isso sim! É claro que você é mais do que outros amigos! mas estou falando mais, as vezes eu acho que você pensa que eu gosto mais de você do que assim desse jeito. Eu já notei isso por várias coisas que você me disse, mas não quis falar na hora.

Ele olha para ela, quer ver a reação dela, menina pequena com ar forte, diante da situação que ela mesma criou. Ele dispara, acho que sua pergunta na verdade é, você gosta de mim mais do que amiga, menos do que apaixonadinho? hahahaha e desata a rir da situação. Ela foge, ai como você se acha! hehehe, ele não para de rir, que bonitinho! ficou sem graça!!! Ai, para! É, é isso mesmo, você se acha o gostosão, né? Estou completamente a seus pés e desesperada. Falou isto sarcastica e brava por ver estragado seu labirinto.

Eu? me achar? de jeito nenhum gatinha! é claro que eu sei que você NÃO gosta de mim! hahaha, eu também NÃO gosto de você! vem aqui, to adorando você brava. Ai que saco, seu chato, odeio você. Eu também, me da um beijo.

Ai então tá, então ficamos assim, eu não gosto de você e você não gosta de mim. Tá bom, ficamos assim, os dois já com sorriso no rosto de adolescentes na idade errada.

Thursday, May 31, 2007

A praxis se subverte em nós


Na volta para casa, ida para o teatro, o telefone tocando. Tinha combinado com vários de nos encontrarmos em casa, mas o trânsito da Bandeirantes não colaborava e eu estava preocupado que alguém estivesse à porta de casa me esperado. Droga. Não teria pego este trânsito se tivesse ido pela Ricardo Jafet, meu caminho usual.

Vou conversando com o gerente. Vamos discutindo problemas do projeto, pessoas que têm ou não boa postura. Recebo elogios: "O Petroni. O Petroni me perguntou de você e eu disse como você estava indo bem. Não tenho mais dúvidas..." Só um segundo, tenho que atender, alô? Oi Si, onde ce tá? Ah tá, eu também estou enrolado, o trânsito está um horror. Desculpe Jorge, você dizia? "Então, o Petroni, falei pra ele que na minha opinião você será o gerente da continuação do projeto. Definitivamente é você. Foi o que eu disse para ele." Não dei muita atenção para os elogios, voltamos a discutir os riscos que temos que mitigar, processos para aumentar a eficiência.

Abraço, até amanhã. Me despedi ao deixá-lo no hotel. Toca novamente o celular. Alo? oi, então, o trânsito está foda, to a caminho, vamos juntos. Você passa e me pega? Estou bem pertinho de lá. Beijo até.

Caralho, faz duas semanas que tento anotar meus sonhos, mas só sonho com o projeto, o que falta fazer, com quem tenho que falar. Esses dias sonhei com a solução para uma arquitetura que há dias tentávamos fechar. Bom, mas pelo menos tô me sentindo super disposto a isto. Já é um progresso.

Chego em casa, abro a revista que comprei, toca o celular. Que? já estão aqui? tá, tô descendo. Não querem subir? Termino de ler a entrevista e pego o elevador.

A peça é mais um show do que peça, o teatro é mais um bar que um teatro e eu demoro a prestar atenção. Sinto-me muito bem. Sinto-me rápido nas respostas, com respostas engraçadas e afiadas. Mas não me sinto muito no clima do show.

O show começa. Não é que eles cantem mal, mas o som está horrível, o palco fica numa área separada do bar, mas a porta que liga as duas partes está aberta, o microfone dela está com mal contato. Cantam. Ela atua. Ele atua. "Mais uma cerveja?"

Os dois são muito feios. Ele é magrelo e tem a cabeça alongada, um pouco desproporcional para o corpo. Tem orelhas e nariz grandes, com o olho levemente estrábico, com um olho fungindo-lhe ao controle de tempos em tempos.

Ela é meio gordinha, vestida de vedete, nariz pontiagudo e dentes da frente separados. Não é que atuem mal, mas é como se toda a sensibilidade, frases de amor que intercalam as canções do Chico não me atingissem. É como se elas errassem o alvo. São setas que desviam em minha bolha de eficiência.

Depois de algum tempo começo a me dar conta. Começo a perceber o fundo que está minha sensibilidade. Começo a perceber o como são lindamente ineficientes os artistas. Como são lindamente desorganizados, e como erram sem medo. Ela não tem o menor medo de parecer ridícula. Ela não teme que digam a ela que sua atuação não diz nada. Ele é gay e força-se a beijá-la. Misturam Drummond, Bernard Shaw e Chico. Falam de amor sem falar em Vinícius. Cortaram a música do Chico, o "casamento dos Pequenos Burgueses" virou uma piadinha do Nelson Rodrigues. Decadência. Como é bela e autêntica a decadência da arte no centro da cidade. Ela está linda, entre as cabeças da mesa da frente, com as luzes refletindo em minha mesa. Onde está minha câmera?

E assim, numa peça de teatro que é show, em um teatro que é bar, choro ao ver a beleza desta decadência com a força poética de uma puta triste fumando um cigarro ao lado do cartaz da Elis. Vamos? enxugo o rosto. Tenho que trabalhar amanhã.

A praxis se subverte em nós.

Monday, May 28, 2007

O Fingidor

Haverá algo pior que ser fingidor sem ser poeta?
Tomo caminhos mais longos antes de voltar à minha sozinhêz.
Pelas ruas noturnas desta metrópole, procuro, sem muita lucidez
uma resposta, em algum canto escuro uma porta aberta.

Um bar barato, aleatório, sem charme algum, esperança vã
Se arriscar e encontrar alguém sozinha alguém perdida
Que esteja ali, neste improvável bar, com um xale de lã
fora da moda a esperar um café, um oi, uma despedida

Em casa, poemas lidos e relidos, cigarros caros e inofensivos.
Textos simples demenos, rápidos demais para um sentir que é lento.
É fruto de uma vida enclausurada nesta camisa-de-força de vento,
deste lamentar do passado, e não-quereres de futuros noscivos.

Queria eu ser poeta, jogar-me aos dados,
sem sonhar, sem pensar, quaisquer que sejam os fados.

Monday, May 21, 2007

Sei lá

Sei lá.
Esses dias, um dia desses, acordei achando
que valia a pena vencer a mim mesmo, mesmo vacilando
que isto seria não mudar nada, ou pior, que seria ser capitão
de um encouraçado que serve carne podre aos marinheiros no porão.

Sei lá.
o que sou eu, sei que não concordo, sei o que sei, sei de onde saí,
sei que nada sei, só não sei o que eu sei, se a via crucis virou circo estou aqui.

Sei lá.

Sunday, April 15, 2007

Schönheitsfehler**

Uma piscina dividida em duas partes. Uma grande parte de lazer e duas raias ao fundo, onde treinam alguns nadadores.

Uma criança mergulha em minha frente e eu continuo a olhar para a piscina, enquanto crio coragem para entrar na água. Não é questão de medo, nunca tive medo de água fria. Ao contrário, sempre preferi mergulhar de uma só vez, e sentir as infinitas agulhas espetando o corpo, olhos fechados e a cabeça ditando a direção.

Na borda oposta uma garota nova, muito jovem, bonita, pele branca cabelos castanhos pelos ombros se prepara para entrar nas raias de treino. Ela não seria especialmente atraente, não tem um corpo especialmente chamativo, mas tem uma delicadeza, um olhar inteligente e um sorriso de quem sabe mais do que demonstra que me atrai mais do que o orgulho de estar com uma mulher desejada.

Olho bem para ela, nós já nos conhecemos de algum lugar, ainda que nunca tenhamos trocado uma só palavra. Teríamos trocado olhares outra vez? Parece que sim, e agora a cena se repete. Ela me dá um sorriso e algo me chama a atenção, seus dentes frontais são um pouco separados. Isto não dá a ela um mau aspecto, ao contrário a torna mais atraente, talvez por ser única, talvez por ser individual, por lhe dar mais personalidade.

O dia é lindo e curto um pouco mais no sol sem ter que tomar decisão nenhuma, e assim continuamos o tempo todo, sem nunca conversarmos, sem ela nunca ficar pronta e iniciar o treino, sem eu nunca entrar na piscina.

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*Schönheitsfehler - em alemão fehler=falha, schönheit=beleza. Schönheitsfehler seria a "Falha de beleza" ou uma pequena falha que chama a atenção.

Friday, March 16, 2007

I don't wanna wait in vain

Escolhas sempre envolvem perdas. E perdas sempre são difíceis, mesmo que elas signifiquem viver mais tranquilamente. Mesmo que signifiquem achar que se vai viver mais tranquilamente. Mesmo que signifiquem que se está realmente perdendo, e o aperto no peito continue.

O vacilo diário de cada dia, efeito borboleta à flor da pele tem sido meu dia a dia em todos os aspectos. Livro-me de tudo isto? Me livro dos livros ou me liberto das liberdades? Abrir mão do futuro é criar-se um novo. Talvez pior, talvez melhor, mas nunca se poderá chorar o não-ter-feito.

Ao menos assim alguma possibilidade se vai e o infinito de incertezas e vazios niilistas se reduz. Ao menos a vida se simplifica, nem que seja por alguns instantes, nem que seja nos aspectos errados. Há quem diga que tudo é reversível. Há quem diga que a vida é um carro sem marcha-ré. Há os que prefiram ir a pé.

Juro que há momentos em que estou certo de que não quero ser um vencedor, e levar a vida devagar para não faltar amor. Juro que há (muitos) momentos em que sou ateu. Juro que há muitos momentos que meu ego leonino me arrasta de volta para a corrente.

Não sei para onde vou, me lembro vagamente de onde vim. Estou em eterna mutação, mas isto não é uma fuga, é uma busca. Ainda que seja infinita enquanto dure.

Não sei se insisto em fazer o que me parece justo ou se sou injusto com com-sentimento. Há que se sentir, e só dá pra sentir com o carro parado.

Não é pra fazer sentido, mas quem sabe me auto-confundindo eu me esclareça?

Tuesday, February 06, 2007

Ode a Quixote

Mesmo o Quixote de Cervantes, ídolo dos loucos e românticos, teve seus momentos de lucidez antes de se entregar totalmente à arte da cavalaria e aventuras.

Alguém dirá que todo tolo é romântico, apesar que o mais comum é se afirmar o oposto. Outros dirão que se trata de imaginação, mera ficção, ainda que a literatura seja famosa por ser arte das mais puras e sãs.

Mas foi justamente a literatura, este antro de sanidade e pureza, que o salvou da lucidez e permitiu
que finalmente se entregasse à loucura, assim se tornando realmente grandioso.

Ave Quixote! Que moinhos o deterão?