Friday, November 03, 2006

Machuca e a Omissão


Não sei se eu levei a coisa muito para o pessoal, mas o fato é que Machuca é um daqueles filmes que te faz pensar por muito tempo. Foi assim da primeira vez que o vi, na mostra de 2004, foi assim desta última vez.

O filme conta a história de um menino rico que estuda num colégio para ricos. Numa iniciativa do diretor da escola, um padre com idéias pouco ortodoxas, métodos rígidos e idéias libertárias, meninos moradores da favela se tornam colegas e passam a ter que dividir o mesmo espaço.

Seria apenas um filme sobre relações humanas se o pano de fundo para a história destes meninos não fosse a ascenção do comunista Salvador Allende, e o consequente golpe militar de Pinochet.

O roteiro do filme é muito bom, e é fácil reconhecer posturas políticas presentes em nosso dia-a-dia latinoamericano. É facil ver "crianças matando crianças inimigas" com suas posturas arrogantes reproduzindo a fala e pensamento de seus pais. É fácil ver o egoismo nazista das socialites que posam de humanistas. "Porque misturar maçãs e peras? Não somos melhores ou piores, somos diferentes, e não há porque se misturar coisas diferentes". Ou o comunista de linha escocesa, "Vamos para a Itália, o comunismo é o melhor para o Chile, mas não é o melhor para nós." O filme é tocante, independente de se você o vê com olhos políticos ou com olhos de novela das oito.

Mas no meu caso ele dói mais. O menino bem nascido que acaba por rejeitar sua classe, que não concorda com o que tem e simpatiza com o não ter.

É enchergar que a gente miúda só quer viver e ter uma chance de não ser culpada do que não é. É um filme que lembra que se omitir a escolher um lado é seguir a corrente e escolher o lado que te escolheu.

Escolhas são difíceis e exigem coragem. O camaleão é um réptil verde.

1 comment:

  1. Anonymous6:53 PM

    Nem preciso dizer que o que vc diz ou escreve sempre me toca de uma maneira unica...Mas desta vez vc parece que leu meus pensamentos... Depois de uma dificil escolha, hoje, após anos bambeando entre um lado e outro, eu consigo enxergar melhor qual é o meu lado coerente, coerente com minha história...
    Beijos
    Cintia

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